NOSSO BREVE MOMENTO NO PALCO DA VIDA
Apaga-te, vela fugaz!
A vida não é senão uma caminhada
Sombria, um pobre ator
Que se pavoneia e gasta a sua hora
No cenário,
E logo ninguém mais o ouve;
Vem a ser um conto
Narrado por um idiota,
Cheio de ruído e fúria,
Que não significa nada.
São essas as palavras que William Shakespeare põe na boca de Macbeth. Até hoje, não encontrei veredito melhor para a condição humana.
Saber que, num prazo que o homem desconhece, as cortinas descerão sobre o palco da sua vida, tirando-o de cena para sempre, faz-me crer que há uma estranha desordem no coração humano.
Como entender ele passar a vida, a fim de ser reconhecido e amado, cumprindo papel que lhe foi entregue por um outro, ainda que isso o conduza a viver de modo inautêntico?
Pense nas contradições desse tempo:
1. Os que dizem defender a família, como valor supremo da sociedade, apoiam um modelo político-econômico que destrói os lares, leva ao consumo de drogas e álcool, atrofia a razão, murcha a alma e engorda o corpo.
2. Uma falsa consciência forjada por uma cultura cujos contornos são definidos pelo poder econômico -com toda a sua capacidade de influenciar as artes, o noticiário e o discurso religioso-, leva os que se tornaram escravos do sistema a não lutar pela sua própria libertação, julgando que há fundamento metafísico para um tipo de vida que não faz o mínimo sentido.
3. Os que combatem a estatolatria, fazendo oposição a toda espécie de regulamentação que humanize as relações trabalhistas, não percebem que abandonaram um ídolo para servirem a outro, o mercado, que, segundo julgam, com sua mão invisível e benevolente haverá sempre de cuidar dos anseios dos que envelhecem antes do tempo de tanto trabalhar.
Termino com um texto de Êxodo 5: 6-8:
"Naquele mesmo dia, pois, deu ordem Faraó aos superintendentes do povo e aos seus capatazes, dizendo: Daqui em diante não torneis a dar palha ao povo, para fazer tijolos, como antes; eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha. E exigireis deles a mesma conta de tijolos que antes faziam; nada diminuireis dela; estão ociosos e, por isso, clamam: Vamos e sacrifiquemos ao nosso Deus".
A quem interessa e quem inventou esse modelo de sociedade no qual vivemos? O que nos rouba? Por que não lutamos pela nossa libertação?
Antonio C. Costa